A Importação de Guerras Culturais
Não tinha grandes expectativas do novo governo de Luís Montenegro, mas a natureza do seu primeiro ato diz tudo o que precisamos de saber sobre este governo “de quantro anos e meio.”
Num país com crises na saúde, habitação, educação, o primeiro ato ser a reversão do logótipo é um gesto não só retrógrado, ridículo, mas também que mostra uma adesão cega às regras das direitas contemporâneas . Não foi um “ato”, foi uma declaração, um virtue signal, para usar a expressão inglesa. É uma sinalização das “virtudes” deste governo: conservadorismo, reacionarismo, tradicionalismo, nacionalismo; e é uma sinalização a uma aliança não só com a extrema-direita nacional mas internacional. É um sinal que existe dentro dum vacúo ou dum ecossistema conservador internacional, dramatizado em oposição a um adversário woke, que nunca existiu em Portugal. Em Portugal nunca houve um momento progressista que meritasse este reaccionarismo, é pura imitação e importação de discurso conservador. A batalha que a direita imagina ou projeta-se a lutar é retirada diretamente do discurso desenvolvido pela fox news para polarizar o sistema bipartidário dos EUA. O que é algo irónico, cruzado com as tendências nacionalistas e isolacionistas destes porta-vozes, mas os fachos são supreendentemente progressistas quando se trata de apoiarem uns aos outros — dinheiro, mensagem, enfim. Os EUA continuam a ser a supremacia mediática do Ocidente. São o epicentro de movimentos sociais, da linguagem que temos para descrever a atualidade, e a origem de muita da fantochada que se sofre hoje em dia. O que é importado é estético. Cá em Portugal esta é uma reação puramente estética, pois a provocação só tem presença nos media que consumimos, não, por exemplo, na legislação do país. Vivemos numa época de estética, circo, estilo, sinais, teatro. E com um campo de batalha tão superficial, não é de admirar que os problemas estruturais de Portugal continuem a se aprofundar.